Pesquisadores do Museu de Zoologia protestam contra suspensão de bolsas

Pesquisadores do Museu de Zoologia protestam contra suspensão de bolsas

O protesto organizado por pesquisadores do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo @museu_zoologia contra a suspensão do pagamento de bolsas, na avenida Nazaré, nesta quinta-feira (8), expôs em nível local os rostos e os dramas de uma crise nacional. Qual o lugar da ciência e dos cientistas no Brasil? Como gerar conhecimento e inovação sem incentivo?

São jovens na casa dos 20 anos, 30 anos, em sua grande maioria, estudantes de mestrado e doutorado, pesquisadores do campo maior da zoologia e recebem bolsa mensal da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), do Ministério da Educação.

Para mestrandos, a bolsa é de R$ 1.500; e para doutorandos, de R$ 2.200. Por contrato, precisam de dedicação exclusiva à pesquisa, que significa a proibição de ter um outro trabalho em paralelo.

Por determinação do governo federal, o pagamento dessas bolsas foi suspenso. Os pesquisadores já não receberam seu dinheiro em dezembro.

Esses pesquisadores trabalham no Museu de Zoologia com jornada extensa, que inclui fins de semana e feriados. Ali desenvolvem pesquisas sobre insetos, animais vertebrados e invertebrados, paleontologia e muitos outros campos.

Na situação desses estudantes estão outros cerca de 6 mil alunos bolsistas de pós-graduação da USP, segundo cálculo da reitoria da universidade.

Fernanda Santos, doutoranda, veste um cartaz onde se lê: “Aqui se produz ciência. Valorize”. Ela explica que a bolsa que recebe já é pequena, não inclui vale-refeição e apenas meia passagem no transporte público.

Muitos desses pesquisadores preferiram mudar para a região do Ipiranga, próximo ao museu, para poupar no transporte. É o caso de Fernanda, moradora da Vila Monumento. “Mas o bairro é caro”, pondera.

“Estamos aqui para sermos vistos e termos nossos direitos garantidos”, conclui, balançando sua mensagem para quem passa.

Bianca Bonicio, doutoranda, carrega o estandarte “Universidades pedem socorro”. Ela lamenta a situação da ciência em geral no Brasil, mas vê uma possibilidade de melhoria com a posse do novo governo, sob o comando do presidente eleito Lula: “É a nossa esperança”.

Rodolfo Santos, doutorando, não consegue esconder mais uma decepção. Ele recorda da temida “fuga de cérebros” para o exterior, que está em curso outra vez. Para Rodolfo, ao não encontrarem respaldo nem empregos, cientistas estão mudando para onde ganham condições de trabalho melhores. “Se não podemos trabalhar no Brasil, como poderemos viver aqui?”
Expostos junto às grades do prédio histórico do museu, estão os trabalhos de pesquisa desenvolvidos pelos estudantes bolsistas, para todo mundo ver e comprovar que ali se produz conhecimento para a sociedade.
A cara da ciência foi às ruas do Ipiranga nesta quinta para lutar por seu espaço. Eles precisam de respeito e do restabelecimento imediato do seu “salário”.

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